ALTO-FORNO E SUA CONSTITUICAO

           Alto-forno

O alto-forno é um equipamento siderúrgico onde vão ser introduzidos todos os elementos que referimos no capítulo sobre a ‘’ metalurgia do ferro’’: minério, combustível, fundente e comburente e onde se desenrolam as transformações necessárias para a obtenção da gusa da 1° fusão.

          O alto-forno é um forno de cuba de eixo vertical, com 20 a 35 metros de altura, na secção circular, e revestido interiormente por tijolos refratários, envolvido por uma estrutura metálica.

          O alto-forno é constituído por:

          - Boca – zona superior cilíndrica por onde se introduzem as cargas e saem os fumos. Possui um dispositivo na parte superior que isola o alto-forno da atmosfera durante a operação, permitindo simultaneamente a carga. Os gases saem por condutas laterais.

          - Cuba – zona tronco-cônica de pequena inclinação, com a base maior para baixo. As paredes são revestidas por tijolos refratários de 80cm de espessura e constituídos por cerca de 70% de sílica. Este revestimento tem de suportar choques devido a carga do alto-forno, pelo que deve possuir elevada resistência.

          A sua estrutura assenta sobre uma galeria circular de betão que se apoia no selo. O arrefecimento da blindagem exterior é feito por rego direto ou por intermédio de tubos de agua que circulam em intervalos da alvenaria.

          - Ventre – zona cilíndrica de maior diâmetro. O seu revestimento refratário é semelhante ao da cuba.

          - Zona de fusão – região tronca-cônica de base maior para cima. As paredes são constituídas por tijolos refratários sílico-aluminosas com cerca de 40% de alumina, ou por tijolos de carbono com cerca de 1m de espessura. O arrefecimento faz-se por circulação forcada de agua na alvenaria ou por rego da blindagem.

          - Cadinho – zona cilíndrica inferior, cuja parte superior – a obra –contém as tubeiras ou algaravies que conduzem o ar. Na parte inferior possui dois orifícios, a níveis diferentes, chamadas sangradores: o superior destina-se ao escoamento da escoria e o inferior ao escoamento da gusa.

          O arrefecimento e o revestimento são idênticos aos da zona de fusão.

          A espessura do fundo do cadinho é de cerca de 3m.

          A estrutura de apoio da zona de fusão e do cadinho assenta em placas de betão.

          Envolvendo o alto-forno existe uma complexa estrutura metálica que suporta os dispositivos de carga e de captação dos gases de escape.

 

Órgãos anexos

          Os recuperadores

          Os recuperadores são aparelhos constituídos por uma torre cilíndrica com cerca de 30 metros de altura e 7 de diâmetro, formada por uma câmara de combustão e por um conjunto de tubos refratários sílico-aluminosas.

          Estes aparelhos são recuperadores de calor, e destinam-se a aquecer o ar que vai aquecer o alto-forno.

          O seu funcionamento é alternativo. Inicialmente fazem-se entrar os gases de escape e provoca-se a sua combustão, obrigando os fumos a sair. A temperatura conseguida no interior do recuperador é de ordem dos 1300°C.

          Numa segunda fase, interrompe-se a entrada dos gases de escape e introduz-se o ar que ao entrar em contato com os tubos aquece, saindo a uma temperatura da ordem dos 800°C.

          Numa siderurgia existem vários recuperadores, funcionando simultaneamente, uns com gases e outros com o ar.

          A alternância das correntes gasosas é efetuada por meio de válvulas.

 

          Câmara de poeiras

          A câmara de poeira é um aparelho constituído por um grande cilindro, com cerca de 15 metros de altura e 6 de diâmetro, destinado a eliminar a grande parte de resíduos sólidos existentes nos gases de escape. Assim, os fumos ao entrarem na câmara de poeira vão sofres uma diminuição de velocidade e uma variação brusca de sentido, o que vai originar que os resíduos sólidos, mais pesados se depositem por ação de gravidade. As poeiras ferrosas são eliminadas por magnetização.

          Na maior parte das siderurgias existem outros mecanismos (câmara de lavagem, filtros) que completam o desempoeiramento dos gases, para que possam ser utilizados como combustível, não só nos recuperadores, mas também em motores térmicos (turbinas, motores de pistão, etc.).

 

          Turbocompressores e motores térmicos

          Os turbocompressores ou as máquinas de pistões, são aparelhos utilizados para a compressão do ar destinado a alimentação do alto-forno.

          Estes aparelhos são acionados, direta ou indiretamente por motores que utilizam como combustível os gazes de escape do alto forno e produzem a energia necessária não só aos turbocompressores, como a toda a siderurgia. Dado que estes motores utilizam os gases de escape como combustível, verifica-se um aproveitamento em circuito fechado de elevada rentabilidade.

           Carga e funcionamento do alto-forno

          A carga do alto-forno é constituída por coque minério e fundentes.

          Antes de dar entrada no alto forno, cada um destes elementos é submetido a um conjunto de tratamentos preliminares, com o fim de se obter uma carga formada por fragmentos de dimensões semelhantes.

          Esta homogeneização de carga é importante, porque torna mais regular a descida no alto-forno e facilita a circulação dos gases, assegurando as transformações químicas necessárias ao processo.

          Na carga introduz-se em camadas sucessivas, coque, minério e fundentes. É importante que as camadas que se depositam no alto-forno se disponham alternadamente, dependendo disso o êxito da operação.

          A alternância é fundamental entre o minério e o combustível. O fundente pode ser misturado com o minério sem qualquer conveniente.

          Durante o processo de transformação verificamos que as temperaturas desenvolvidas nas diferentes zonas do alto-forno são crescentes de cima para baixo, variando desde os 200°C na boca até cerca de 1600°C no cadinho.

          No alto-forno podemos considerar dois fluxos opostos: o da carga, de cima para baixo, e o dos gases, de baixo para coma.

 

          Transformações na descida da carga

          O minério introduzido no alto-forno é constituído geralmente por hematite – pois, mesmo quando se trata de magnetite, esta, na maior parte dos casos, sofre uma circulação prévia que a transforma em óxido de ferro III.

          Após ser introduzido pela tremonha, o minério conecta com a corrente gasosa, que contém monóxido de carbono e está, a uma temperatura compreendida entre os 200 e os 270°C. então, o oxido de ferro III reage com monóxido de carbono, transformando-se em oxido de ferro II e III.

          A transformação não é completa devido a velocidade de descida do minério. Assim, a partir do meio da cuba, teremos uma mistura de magnetite e ferro sólido (pastoso).

          Para temperaturas superiores a 570°C. continua a redução do ferro já na parte média e inferior da cuba, mas agora com a formação intermedia de óxido de ferro.

          No entanto a concentração necessária de CO é sempre assegurada, dada a existência de carbono em abundancia proveniente do coque, o qual produz a dissociação do dióxido de carbono.

          A cerca de 1000°C, portanto no ventre, praticamente já só existe ferro pastoso e pequenas quantidades de óxido de ferro II que é reduzido diretamente pelo carbono puro.

          No final da operação deposita-se, no fundo do cadinho, o ferro liquido com algum carbono dissolvido e pequenas quantidades de fósforo, silício e manganês. A sobrenadar este banho, existe uma massa pastosa – a escória – resultante das reações verificadas entre a ganga e o fundente.

          As reações químicas que referimos são reversíveis, o que significa que tanto se pode realizar num sentido como no outro, dependendo isso da concentração dos elementos em presença e da temperatura.

          O elemento chave para a realização destas reações no sentido da esquerda para a direita é como se referiu, o monóxido de carbono, que terá de existir em elevada percentagem durante todo o processo. A sua existência em grande quantidade explica-se facilmente entendendo ao que se passa no trajeto ascensional dos gases.

 

          Transformações na subida dos gases

          O ar injetado ao nível da parte superior do cadinho através dos algaravies, a uma temperatura da ordem dos 750°C e uma pressão entre 1.5 e 2 atmosferas.

          Dos elementos que constituem o ar, somente o oxigênio nos vai interessar para a explicação deste processo.

          Assim, o oxigênio atravessa o coque a elevada temperatura, combina-se com o carbono e forma o dióxido de carbono, como se referiu anteriormente. Esta reação liberta grande quantidade de calor e a principal responsável pela elevação da temperatura no ventre entre 1600 a 1750°C. como o carbono existe em grande quantidade e a temperatura é elevada, realiza-se a dissociação do dióxido de carbono, originado do monóxido de carbono.

          Esta reação, ao contrário da primeira, é endotérmica, isto é, consome calor, e portanto faz baixar a temperatura.

          É importante assinalar que no conjunto destas duas reações resulta uma libertação de calor importante.

          A reação de dissociação do dióxido de carbono, embora mais intensa no ventre, verifica-se na maior parte do alto-forno (pois este, como se referiu, é carregado alternadamente com coque e minério), só se deixando de realizar quando a temperatura é inferior a 400°C, já na parte superior da cuba.

          Estas reações também explicam a variação da temperatura no alto-forno que é máxima junto aos algavarizes, diminuindo daí para cima. Para temperaturas inferiores a 700°C por vezes, o monóxido de carbono dissocia-se dando origem ao dióxido e ao carbono.

          Mas a reação ocorre em pequena escala e não altera substancialmente a percentagem do CO.

          A saída, os fumos são constituídos, essencialmente, por monóxido e dióxido de carbono, azoto, vapor de agua, hidrogênio, carbonetos e poeiras.

 

          Descarga do alto-forno

          Periodicamente procede-se a descarga das escorias e da gusa depositada no cadinho. Embora o procedimento dependa da instalação industrial, a purga das escorias efetua-se a intervalos regulares, de 1 a 4 horas, e a descarga da gusa a intervalos de 4 a 12 horas.

 

          Produtos do alto forno

          Podemos considerar como produtos do alto forno a gusa, a escória e os gases de escape.

         

          A gusa da primeira fusão

          A gusa depositada no cadinho do alto-forno contém, além de ferro, o carbono em percentagem superior a 2% e pequenos teores de silício, manganês, fósforo e enxofre.

          O seu vazamento efetua-se pelo sangrador inferior, podendo seguir duas vias:

           - Ser lançada num misturador (panela de grandes dimensões), no qual é mantida no estado líquido e onde se reúnem gusas de vários vazamentos para posterior transformação em aço.

          - Ser vazada em lingoteiras, onde solidifica sobre uma forma de lingotes que se destinam a ser transformados em ferro fundido ou gusa da segunda fusão.

          A gusa de primeira fusão funde a temperaturas de ordem dos1150°C, é frágil, resiste muito mais a esforços de compressão do que de tração e não se pode maquinar nem forjar.

          Dadas estas caraterísticas, a gusa da primeira fusão só excepcionalmente é utilizada na produção direta de peças, como é o caso de fabrico de tubos de grande série, placas de esgoto e cabeças de amarração de navios.

 

          Escória

          A escoria é constituída por uma massa pastosa, resultante da ganga e do fundente, formada por silicatos de alumínio e cálcio e pequenas quantidades de óxidos de magnésio, de ferro e vários sulfuretos.

          De acordo com a sua composição é usual classificar as escórias em ácidas ou básicas.

          As escórias acidas tem uma percentagem de silício superior a 30%, e apresentam um aspecto vítreo.

          As escórias básicas tem uma percentagem de silício inferior a 30%, cor escura e são espessas e viscosas.

          O volume de escória a purgar depende da composição da carga, podendo variar, para uma tonelada de gusa, entre 800 a 1300 kg. Como se trata de quantidades elevadas, é importante que a purga efetuada pelo sangrador superior, seja rápida, o que depende da viscosidade. Quando as escórias são básicas, é usual adicionar-lhes magnésio para aumentar a sua fluidez.

          É igualmente importante encontrar uma aplicação para este material. Atualmente utiliza-se, com bons resultados, na fabricação de cimento, como constituinte de pavimentos e isolante térmico.

 

          Os gases de escape

          Pelas condutas situadas na boca saem os gases resultantes das reações no alto-forno a uma temperatura de ordem dos 200°C os quais são escoados a altas velocidades.

          Estes gases são constituídos, em média por 27% de CO, 12% de CO2, 2% de H2, 0,5% de CH4 (metano) e 58% de N2, e ainda por vapor de agua e poeiras. Possuem um poder calorifico de ordem dos 1000 cal/m3, o que os classifica como combustíveis pobres.

          O principal inconveniente da sua utilização reside no elevado conteúdo de impurezas sólidas abrasivas e isolantes que tem de ser previamente eliminadas.

          Assim, os gases, após saírem do alto-forno passam por aparelhos que eliminam os resíduos sólidos, podendo depois ser utilizado como combustível nos recuperadores e nos motores.

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