TRATAMENTOS TERMICOS DOS ACOS E LIGAS METALICAS

 

Tratamentos térmicos dos aços e ligas metálicas



         Princípios e finalidades

          Certos metais e ligas não podem ser utilizados logo após a sua elaboração por não oferecerem todas as propriedades físicas e mecânicas exigidas pelos construtores, quer para resistirem aos esforços a que serão submetidos quer para permitirem a sucessão de fases que, muitas vezes, a fabricação de uma peça exige. E, assim, podemos dizer que a utilização racional de uma liga metálica impõem, necessariamente, a aplicação subsequente de um tratamento térmico ou termoquímico apropriado.

          Como exemplo, abrangendo uma grande gama da indústria metalomecânica, poderemos citar alguns metais e ligas metálicas atingidas por este tratamento:

          - todos os aços para feramente;

          - o aço especial cromo-níquel empregado na execução de engrenagens;

          - o cobre e o duralumínio, em folhas, o primeiro empregado na manufatura de peças de forma (caldeiraria) e o segundo na indústria aeronáutica.

 

          Como já vimos, existe para cada liga determinadas temperatura a que chamamos temperaturas ou pontos de transformação para as quais, e especialmente para as ligas ferro-carbono, elas trocam ou mudam de constituintes o que provoca modificações das suas características mecânicas.

          Portanto, os tratamentos térmicos não são mais do que operações de aquecimentos seguidas dum oferecimentos, em condições de velocidades determinadas, que tem por objetivo conferir a uma peça metálica as propriedades exigidas para a sua utilização pratica.

 

          Designam-se por tratamentos termoquímicos aqueles em que a variação da temperatura está associada a ação dum produto ou agente químico.

          Qualquer destes tratamentos ter por fim modificar, melhorar ou regenerar s propriedades físicas ou mecânicas de certos metais e ligas e, em particular, dos aços ao carbono, cujo o objetivo principal e o aumento do seu limite elástico com a redução da sua fragilidade.

 

          Duma maneira geral, um tratamento térmico não produz modificações na composição química duma liga ferro-carbono. As modificações que se produzem dizem respeito aos três casos seguintes:

          - constituição- sobre o estado do carbono e forma alotrópica do ferro;

          - textura- sobre a grossura do grau e distribuição dos constituintes;

          - estado mecânico- as diferenças de temperatura em diversos pontos da peça provocam dilatações diferentes as quais podem dar origem ao aparecimento de tenções de internas e causar deformações na peça.

          Por isso tanto os tratamentos térmicos como os tratamentos termoquímicos, propõem-se melhorar um metal ou uma liga metálica atuando sobre a sua constituição e sobre a sua textura evitando, tanto quando possível, destruir o seu estado de equilíbrio mecânico.

          Vejamos, a seguir os principais tratamentos térmicos e termoquímicos aplicados as ligas mecânicas:  


          Têmpera

          A têmpera é um tratamento térmico cujo objetivo principal tem por fim provocar a modificação das caraterísticas mecânicas seguintes:

                    - aumentar a tensão de ruptura e a dureza;                                                           

                    - diminuir a extensão após a ruptura e a resiliência

          Dum modo geral a têmpera aplica-se aos aços contendo pelo menos 0,3% de carbono e a certas gusa ou a ferros fundidos, além do duralumínio.

          A têmpera consiste em aquecer primeiro toda a massa metálica da peça a tratar a uma temperatura um pouco superior ao ponto de transformação, chamada temperatura da têmpera e, depois, em arrefece-lo rapidamente, por imersão, num fluido devidamente escolhido, como o ar, um liquido ou um gás.

          A temperatura de aquecimento, como é logico, varia conforme a composição química das ligas metálicas que constituem esta peça. Em qualquer caso, convêm aquecer a peça, primeiro lentamente até uma temperatura próxima ao ponto de transformação e, depois, rapidamente até uma temperatura superior a temperatura do ponto de transformação. Este método tem por fim não só evitar a rotura das peças nas vizinhanças da linha de transformação como, também, evitar a oxidação ou alteração das ligas a uma alta temperatura.

          Recomenda-se, por exemplo, as seguintes temperaturas de aquecimento:

                    - Para os aços ordinários e aços especiais; um aquecimento lento até 450°C e, depois, um aquecimento rápido até 770°C, para os aços com maior percentagem de carbono, e 900°C para os aços com menor teor de carbono.

                    - Para os aços rápidos; um aquecimento lento até 800°C seguido dum aquecimento rápido até 1200°C.

                    - Para o duralumínio; um aquecimento até 500°C realizado em 20 minutos.

 

          Para este aquecimento utilizam-se geralmente, fornos e aparelhos especiais como veremos adiante, no capítulo dedicado a esse assunto. Também se pode aquecer a peça na forja ou por meio dum maçarico de gás, ou oxiacétilenico, mas estes processos de aquecimento são utilizados para trabalhos de pouca precisão e responsabilidade nula, uma vez que a temperatura é avaliada empiricamente.  No trabalho assim realizado corre-se o risco de alterar a composição da liga.

          A segunda fase da operação da têmpera, ou seja, obtenção duma temperatura uniforme em toda a massa metálica dura, apenas alguns minutos.

          Finalmente, a terceira fase, ou seja, o arrefecimento, consiste no abaixamento muito rápido da temperatura da peça até a temperatura ambiente, geralmente, cerca de 20°C.

          Ora, é nesta velocidade de arrefecimento e na temperatura do fluido refrigerante que esta, muitas vezes o segredo de uma boa têmpera, pois são essas causas a que influem, sensivelmente, sobre as características mecânicas obtidas após a têmpera. Assim, um arrefecimento muito rápido, origina uma liga muito dura, ao passo que um arrefecimento menos rápido dá, por sua vez, uma liga menos dura. Ensaios sucessivos levaram, assim, a metalurgista a determinar as chamadas velocidades críticas da têmpera.

          Quanto aos principais fluidos para o arrefecimento das peças temperadas, os mais utilizados são:

                    - Agua vulgar ou agua salgada.

                    - Óleos de origem animal, vegetal e mineral, e o petróleo.

                    - Gorduras fundidas, de origem animal e vegetal.

                    - Metais em fusão.

                    - Sais metálicos em fusão.

                    - Ar comprimido.

          Todos estes fluidos permitem obter uma variada escala de temperaturas de têmpera começando em 20°C para o ar ou agua, até 230°C para os óleos especiais de têmpera e mesmo até 600°C, aproximadamente, para os sais metálicos em fusão e, consequentemente, realizar diversas qualidades de têmpera.

          Damos a seguir, algumas temperatura de arrefecimento mais utilizadas na prática:

                    - Para os aços ao carbono – agua a 15°C.

                  - Para os aços rápidos – óleo a 60°C.

                    - Para os aços especiais – sais metálicos em fusão a 550°C seguido dum arrefecimento ao ar a 20°C.

                    - Para o duralumínio – agua a 20°C.

          Pelos estudos podemos verificar que os efeitos produzidos pela têmpera, nos aços com pequena percentagem de carbono, são muito menos pronunciadas daqueles produzidos nos aços com maior teor de carbono e que, por seu lado a resiliência aumenta ligeiramente. É por esta razão que se diz, embora impropriamente, que os aços macios não recebem a têmpera.

          No entanto, em certos casos, os efeitos da têmpera são contrários aos verificados corretamente, como no caso dos aços autotemperantes (aços cromo-níquel), os quais adquirem, pelo arrefecimento ao ar, uma textura martensítica. Esta é corrigida por têmpera em agua, em virtude da austenite se conservar a frio. Igualmente, certos latões e bronzes, tornam-se menos duros e mais maleáveis após a têmpera, mas estes casos são exceções.

          Dum modo geral, o exame de fratura das provetas revela que o metal corretamente temperado apresenta um grão muito mais fino e mais regularmente distribuído do que no estado inicial.

 

          Têmpera superficial

         É também uma operação térmica que está sendo, atualmente muito utilizado em substituição do tratamento termoquímico designado por cementação, que veremos adiante. Tem o inconveniente de exigir o emprego duma máquina de elevado custo.

          Como o nome indica, a têmpera faz-se só, superficialmente. É que, certas pecas, tais como engrenagens e veios de máquinas, devem ter uma dureza superficial importante e apresentar, simultaneamente, uma grande resiliência no interior, ou alma, afim de resistirem melhor aos choques e vibrações.

          Essas peças são executadas em aço especial, com grande percentagem de carbono (ou aço semiduro ao carbono, ou aço semiduro cromo-níquel autotemperante), submetido previamente a têmpera seguido dum revenido a alta temperatura. Antes de serem retificadas e depois de serem trabalhadas na máquina-ferramenta, essas peças são aquecidas superficialmente e, novamente, temperadas.

          Ora, é esta última operação que pode ser realizada facilmente com o calor da chama dum maçarico oxiacetileno seguido dum jato de agua fria (têmpera ao maçarico), ou então, nessa máquina especial na qual as peças são colocadas no interior de uma bobina percorrida por uma corrente alternada de alta frequência (50 000 ciclos por segundo) produzida num gerador próprio.

          O conjunto bobina-peça funciona como se fosse um transformados. As correntes induzidas de alta frequência geradas na peça e que, devido ao efeito pelicular, se localiza na periferia, provocam o aquecimento do metal a uma profundidade de, somente, 1 a 2mm. A peça está suspensa por uma pinça que é comandada por um termostato e que, atingida a temperatura requerida, liberta automaticamente a peça que cai no banho da têmpera (têmpera por indução).

 

          Revenido

          O revenido é um tratamento térmico que é aplicado, exclusivamente, as peças temperadas, já que o aço temperado fica, muitas vezes, mais duro do que aquilo que é necessário e, geralmente, mais frágil. Por esta razão, a têmpera é habitualmente seguida dum revenido que consiste num aquecimento a uma temperatura variável, mas sempre inferior a correspondente ao ponto de transformação seguido dum arrefecimento relativamente lento.

          Assim, o revenido tem por objetivo essencial modificar os efeitos da têmpera, isto é, provocar:

                    - uma diminuição da tensão de rotura e a dureza, exceto para os aços rápidos;

                    - um aumento da resiliência e da extensão após a rotura.

          A importância das modificações destas características mecânicas é função da temperatura pois, quanto mais elevada esta for, mais atenuadas serão os efeitos da tempera.

         

          Recozimento

          O recozimento é um tratamento térmico que consiste em aquecer um aço a uma temperatura geralmente superior ao ponto de transformação e deixa-lo, depois, arrefecer lentamente, tendo por objetivo anular os efeitos da tempera, isto é, fazer desaparecer os estados fora do equilíbrio resultantes de tratamentos anteriores, quer térmicos quer mecânicos.

          O arrefecimento é realizado a uma velocidade inferior à da têmpera, geralmente no ar, se isto não provocar novamente a têmpera porque, senão, deixa-se arrefecer o material no próprio forno, depois de apagado, envolvido ou mergulhado em cal, cinza ou areia previamente aquecida.

         O estado de recozimento corresponde aos valores máximos da ductibilidade e aos valores mínimos da resistência, isto é, variam no mesmo sentido do tratamento térmico de revenido.

          O metal torna-se, assim, mais maleável e resiste melhor aos esforços bruscos ou alternados e aos choques.

          Os ensaios a que foi submetido um aço semiduro com 0,4% de carbono dão-nos uma ideia da influência deste tratamento térmico sobre os produtos laminados (pouco trabalhados a frio), estirados (muito trabalhados a frio) e temperados. Nota-se que o trabalho a frio dos metais pode ser comparado com uma têmpera mecânica em que os cristais ou grãos do metal foram deformados por um trabalho mecânico executado a frio ou a muito baixa temperatura.

          De resto, todos os aços, a maior parte dos metais e ligas não ferrosas podem sofrer os efeitos do recozimento. Deste modo, conforme os efeitos que se pretendem podemos distinguir os seguintes tipos:

                    a) Recozimento de homogeneidade – com o fim de desfazer a heterogeneidade química.

                    b) Recozimento de regeneração – que torna o grão mais fino.

                    c) Recozimento de têmpera – que torna mais fácil o trabalho dos produtos temperados.

                    d) Recozimento de estabilização – que faz desaparecer as tensões internas.

                    e) Recozimento de recristalização – que se pratica sobre os produtos trabalhados a frio. 

 

         

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