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CLASSIFICACAO DOS FERROS FUNDIDOS

 

Classificação dos ferros fundidos

 

         Introdução

          Já referimos a existência de dois tipos de ferros fundidos: um que se formava a grafite e que correspondia a solidificação segundo o diagrama estável; outro, onde o carbono se combinava com ferro formando cementite e que correspondia a solidificação segundo o diagrama metaestável.

          Estes dois tipos de ferros fundidos designam-se, respectivamente, por ferros fundidos cinzentos e ferros fundidos brancos.

          A velocidade de arrefecimento das ligas será o elemento determinante na formação dum ou doutro dos constituintes, desde que a liga seja binaria pura.

          Na prática isso nunca acontece e verifica-se que as estruturas finais dependem simultaneamente da velocidade de arrefecimento e da composição real das ligas.

          Assim, provou-se que:

          - Elementos como silício, alumínio, titânio, níquel e cobre se opõem a formação da cementite, favorecendo aparecimento da grafite. São os elementos grafitizantes.

          - Elementos como o manganês, molibdênio, crômio e vanádio favorecem a formação da cementite. São elementos antigrafitizantes.

         

          Dado que todos os ferros fundidos possuem, além do ferro e do carbono pelo menos alguns destes elementos, as suas estruturas finais vão depender, para além da velocidade de arrefecimento, da presença dos referidos elementos.

          Posto isto, vamos estabelecer uma classificação dos ferros fundidos, baseada fundamentalmente no tipo de estrutura e composição química.

          Dividiremos os ferros fundidos em:

 

          Ferros fendidos ligados:

          - cinzento; branco; maleáveis; mistos.

 

          Ferros fundidos especiais (ligados)

          - resistentes ao calor;

          - resistentes a corrosão;

          - resistentes ao desgaste.

 

          Ferros fundidos cinzentos

          Os ferros fundidos cinzentos, cuja estrutura estudamos no ponto anterior, devem a seu nome a cor das suas superfícies de fratura.

imagem microscopica do ferro fundido cinzento

          Caracterizam-se por possuírem a maioria do carbono na forma de grafite, que apresenta mais de 87% do total de carbono.

          Para que se forme grafite, é necessário uma velocidade de arrefecimento muito lenta ou, sendo esta menos lenta, que existam na liga elementos que impeçam a formação da cementite.

          É por isso que essas ligas são constituídas, além do ferro e do carbono, por uma percentagem significativa de silício, algum manganês, enxofre e fosforo.

          O teor de carbono deste elemento esta compreendido entre 2,8 e 3,6%, podendo eventualmente atingir 4%. Este valor não é geralmente ultrapassado por duas razoes:

          - Para percentagens mais elevadas, as características mecânicas do ferro fundido diminuem.

          - a partir da composição eutética, começa a formar-se a grafite primária que pode ser eliminada após a solidificação.

          O carbono, ao associar-se sob a forma de grafite, vai originar um constituinte pouco duro, pouco tenaz e de cor negra responsável pela cor cinzenta observada na superfície de fratura.

          Quanto maior for a percentagem de grafite, menos tenaz e menos duro será o ferro fundido, embora apresente boas características de moldabilidade e maquinabilidade. Além disso, dado que o espaço ocupado pela grafite é menor que o ocupado pela cementite, esta compensa as contrações volúmicas provocadas pelo arrefecimento e proporciona boas caraterísticas de amortecimento das vibrações.

 

          Características mecânicas do ferros fundidos cinzentos

          Os ferros fundidos cinzentos tem uma maior resistência a compressão do que a tração e resistem mal aos choques.

          Os valores das características mecânica variam de acordo com a composição química, com o tamanho do grão e com a forma das partículas de grafite. Serão mais elevadas para percentagens de silício da ordem dos 2% e quando as partículas de grafite forem menores.

          As características mecânicas obtém-se pelos ensaios clássicos. No entanto, atualmente pode prever-se o valor de algumas propriedades dos ferros fundidos cinzentos, uma vez conhecida a sua composição química.

          Por exemplo: a dureza ou o módulo de elasticidade podem obter-se através de ábacos construídos de acordo com inúmeras experiências.

          Antes de vermos como se podem utilizar estes ábacos temos que fazer algumas considerações:

          - Sabemos que um ferro fundido não é uma liga binaria de ferro e carbono, mas que possui sempre outros elementos de liga que influenciam as suas propriedades mecânicas.

          - Através de inúmeras experiências, chegou-se à conclusão de que o efeito de certos elementos de liga nas propriedades mecânicas podia ser traduzido em termos de percentagem de carbono. Isto é, teoricamente, um dado elemento de liga pode ser substituído por um aumento ou diminuição de percentagem de carbono na liga.

 

          Assim, por exemplo, a presença de 1% de silício num ferro fundido cinzento tem um efeito sobre as propriedades mecânicas idêntico a presença de 0,312% de carbono. Isto significa que 1% de silício é equivalente a 0,312% de carbono. Sendo assim, podemos considerar a liga sem silício, desde que suponhamos a sua percentagem em carbono aumentada de 0,312%

          A presença de 1% de manganês corresponde a uma diminuição ao teor de carbono na liga de 0,06% e poderíamos fazer considerações semelhantes as anteriores.

         

          Surgiu assim a noção de carbono equivalente o que permite considerar qualquer liga constituída apenas por ferro e carbono. É então possível comparar várias ligas entre si, considerando a sua posição relativa ao diagrama de equilíbrio e inferir as suas propriedades mecânicas.

          Para os ferros fundidos cinzentos e considerando como elemento de liga, para além do ferro e carbono, o silício, o fósforo e o manganês, o carbono equivalente é dado pela relação:

          C equivalente = % C total + 0,312 x Si + 0,33 x % P – 0,66 x % Mn.

          Geralmente prescinde-se da correção para o manganês e fica:

          C eq. = % C tot + 1/3 (% Si + % P)

 

          O fósforo, no entanto, tem uma ação particular sobre a dureza que se não pode traduzir em termos de carbono equivalente.

          Então, para se fazer a comparação entre dois ferros fundidos com diferentes teores de fosforo, É necessário introduzir uma correção quanto a dureza. Na prática, verificou-se que o aumento de 1% de fósforo implica um aumento de dureza de 30 HB no ferro fundido.

          Podemos agora deduzir a expressão que nos permite saber qual a dureza dos ferros fundidos admitindo que nenhum deles tem fósforo. Essa expressão será:

          HB corrigido = HB real – 30 x % P

          Combinando as cocções de carbono equivalente e dureza corrigida, podemos comparar e deduzir as caraterísticas de vários ferros fundidos, uma vez conhecia a sua composição química, pela utilização de ábacos e formulas práticas.

        

          Aplicação

          Os ferros fundidos cinzentos são utilizados na obtenção de mais variadas peças de fundição, dado que são facilmente moldáveis e maquináveis.

          A fundição é um processo de fabrico de ampla aplicação, pois permite obter pecas complicadas com rapidez e com mínimo de perda de material.

 

          Ferros fundidos cinzentos nodulares

          Umas das limitações mais importantes dos ferros fundidos cinzentos resulta das suas fracas características mecânicas, principalmente devido a presença da grafite eutética.

          Este grafite lamelar forma, no interior da matriz, zonas de alta fragilidade, responsáveis pela diminuição acentuada da tenacidade.

          A partir do final dos anos quarenta deste século, descobriu-se a forma de, mantendo as boas características de moldabilidade e maquinabilidade dos ferros fundidos cinzentos, eliminar a estrutura lamelar da grafite eutética.

          Surgiram então os chamados ferros fundidos nodulares, nos quais a grafite eutética aparece sob a forma de pequena esferas, constituindo nódulos uniformemente distribuídos.

          Esta estrutura obtém-se pela adição, no metal liquido, certos elementos, como o magnésio e o césio, que provocam a dispersão da grafite, seguida da inoculação de ferro-silício o que evita a formação da cementite dando origem a uma matriz de grão fino de elevada resistência ao choque e a flexão.

          Este ferro apresenta ainda grande ductilidade, e excelentes características de moldabilidade, estanqueidade e maquinabilidade, um elevado módulo de elasticidade e boa resistência ao desgaste e a corrosão.

          Pelas suas características, os ferros fundidos nodulares substituem já, com grande vantagens técnicas e econômicas os aços vazados e mesmo os forjados.

 

          Ferros fundidos brancos

          Os ferros fundidos brancos tem uma estrutura já referida anteriormente e devem o seu nome ao facto de apresentarem uma fratura de aspecto esbranquiçado.

ferro fundido branco

          Estas ligas caracterizam-se por possuírem carbono não dissolvido sob a forma de carbonetos de ferro (cementite).

          Para além do ferro e do carbono, contém pequenas percentagens de manganês, silício, enxofre e fosforo.

         

          Vejamos agora a influência de cada um destes elementos nos ferros fundidos brancos.

          Carbono – este elemento, como constituinte da cementite, é responsável pela elevada dureza (300 a 500 HB) e pela grande resistência ao desgaste e oxidação. Por isso, as peças obtidas com ferro fundido branco não podem ser maquinadas, a não ser por esmerilamento, o que torna o seu emprego em fundição muito restrito.

          Em peças delgadas é também responsável por uma certa fragilidade.

          Manganês – este elemento favorece a formação da cementite e elimina o enxofre, encontrando-se geralmente numa percentagem de ordem dos 0,4 a 1,5%.

          Silício – dado que dificulta a formação da cementite, este elemento é prejudicial, sendo a sua percentagem media da ordem dos 0,5 a 1,5%.

          Fósforo – dada a sua pequena utilização desta liga em fundição, este elemento apenas diminui as propriedades mecânicas, pelo que a sua percentagem não deve ser superior a 0,5%.

          Enxofre – sendo um elemento acentuadamente antigrafitizante, a sua presença é fortemente limitada pela existência do manganês, não ultrapassando geralmente 0,30%.

 

 

           Características mecânicas dos ferros fundidos brancos

           Estas ligas resistem melhor a compressão do que a tração, e são muito frágeis e duras (HB 300 a 500). Tem elevada resistência ao desgaste e possuem elevada resistência a corrosão.

 

          Aplicação

          Os ferros fundidos brancos utilizam-se fundamentalmente como material de afinação do fabrico do aço.

          Em fundição empregam-se em peças que necessitam de elevada dureza, boa resistência a corrosão e não exijam trabalhos de acabamento como, por exemplo, corpos e rodas de bombas, cilindros de laminadores, grelhas para caldeiras, etc.

     

          Ferros fundidos maleáveis

          As grandes limitações dos ferros fundidos brancos, deve-se a sua fragilidade e fraca maquinabilidade, o que torna muito dispendioso e difícil qualquer trabalho de acabamento.

          Para eliminar estes inconvenientes, os ferros fundidos brancos são submetidos a tratamentos térmicos de maleabilização.

          Um destes tratamentos consiste em submeter as peças fundidas a dois estágios, de várias horas, a temperaturas da ordem dos 800 a 1000°C, seguidos de arrefecimento lento.

 

          Por ação deste tratamento, a cementite decompõe-se, dando origem a austenite e a grafite recozida a qual se distribui entre os grãos formando pequenos nódulos. Esta estrutura apresenta excelentes qualidades de resistência, maleabilidade e ductilidade, semelhantes a dos aços. É o processo mais recente e mais utilizado.

          O ferro fundido assim obtido designa-se por maleável de núcleo negro devido ao aspecto da sua fratura.

          Existe outro tipo de ferro fundido maleável, designado por núcleo branco também devido ao aspecto da fratura, o qual é obtido através de um tratamento semelhante (recozimento), mas realizado em atmosfera oxidante o que provoca a eliminação de grande parte do carbono.

          A estrutura final obtida, em peças delgadas, é constituída essencialmente por ferrite sem grafite; em peças mais espessas pode observar-se a existência de perlite, pequenos nódulos de grafite e resíduos de cementite.

 

          Ferros fundidos mistos

          Os ferros fundidos brancos e cinzentos são dois casos extremos.

          Nos primeiros, o carbono aparece em forma de grafite em percentagens superiores a 87%; nos segundos, todo o carbono (100%) aparece em forma de cementite.

          Entre estes dois tipos, é possível obter uma série de ligas em que as proporções da grafite e da cementite variam entre esses dois valores extremos.

          Isto consegue-se variando a velocidade de arrefecimento e as percentagens dos elementos grafitizantes ou antigrafitizantes. Obtemos, desta forma, os ferros fundidos mistos.

          A fratura destes ferros fundidos intermédio apresenta-se mesclada de pontos cinzentos numa massa branca.

          As características mecânicas vão depender da percentagem dos constituintes estruturais, e apresentam valores intermédios entre os ferros fundidos brancos e cinzentos.

          Estas ligas aplicam-se pouco industrialmente, devido à dificuldade de prever com exatidão as características finais.

 

          Ferros fundidos especiais

          Num ferro fundido normal, os elemento essenciais são o ferro e o carbono, aparecendo outros elementos como o silício, manganês, fosforo e enxofre em percentagens reduzidas, constituindo, em alguns casos, impurezas.

          Nos ferros fundidos especiais, adicionamos intencionalmente elementos como o níquel, crômio, molibdênio, e outros, em quantidades apreciáveis, como o fim de obter uma melhoria das suas propriedades.

          Podemos considerar como ferro fundido especial aquele que contenha um ou vários destes elementos em percentagens superiores as abaixo indicadas

Ni

Cr

Cu

Ti

V

0,30%

0,20%0

0,35%

0,10%

0,10%

Mo

Al

Si

Mn

O,10%

0,10%

0,5%

1,5%

         

          O silício e o manganês são elementos que estão sempre presentes, mas só se consideram como elementos de liga, quando presentes acima das percentagem atrás indicadas.

          Existem ferros fundidos especiais que, além de apresentarem elevada percentagem de elementos de liga, são submetidos a tratamentos térmicos e químicos adequados a obtenção de determinadas propriedades.

          O grande interesse na utilização desses ferros fundidos, reside no facto de conseguirmos obter muitas características iguais ou superiores as dos aços, permitindo o seu uso na obtenção de peças por fundição.

          De entre as caraterísticas que se consegue melhorar refere-se:

                    - Resistencia mecânica a quente;

                    - Resistencia a oxidação e estabilidade a temperaturas elevadas;

                    - Resistencia a corrosão.

          A título de exemplo, vamos citar dois tipos de ferro fundidos especiais.

 

          Ferros fundidos resistentes ao calor e a corrosão

          São ferros em que a percentagem de silício varia entre 4 a 10%, o que faz com que a grafite se distribua uniformemente, formando uma estrutura fina que assegura uma elevada resistência a penetração dos gases.

          O silício, quando em grandes percentagens, torna o ferro quebradiço não devendo, por isso, ultrapassar os 6%.

          Quando as exigências são mais elevadas, podemos recorrer a ferros com 1,4 a 4% de crômio associado a 12 ou 14% de níquel, ou então, introduzir apenas crômio, em percentagens de 28 a 36%.

          Os ferros de crômio e níquel denominam-se austeniticos. Resistem bem a variações de temperatura, mesmo de ordem dos 1000°C, e são magnéticos. São também resistentes a corrosão porque constituem uma estrutura densa e compacta, livre de inclusões não metálicas.

          Estes ferros aplicam-se em grelhas e cadinhos de fornos, moldes para indústria vidreira, suportes de sobreaquecedores, cubas, etc.

 

          Ferros fundidos resistentes ao desgaste

          Existem dois tipos fundamentais:

                    - os que resistem ao desgaste por abrasão;

                    - os que resistem ao desgaste por choque.

          Os primeiros contém níquel, crômio e molibdênio, o que permite a obtenção de uma estrutura muito dura e de alta resistência (estrutura martensítica e sorbitica).

          Os segundos contém crômio e alumínio e são submetidos a um tratamento termoquímico a 525°C numa atmosfera de amoníaco. No final obtemos um ferro de dureza elevada, da ordem dos 350 HB.

          Estes ferros aplicam-se em corpos de britadeiras, camisas de motores de camião e motores de competição.

 

 

 

 

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