TECNOLOGIA DOS METAIS

 

TECNOLOGIA DOS METAIS

 

          INTRODUҪÃO

          Na sua longa evolução, o homem para satisfazer as suas necessidades, utilizou um certo número de matérias-primas com que fabricou os instrumentos necessários a sua sobrevivência.

          No início, serviu-se apenas de materiais de erigem mineral, vegetal e animal, como a pedra a madeira e as peles de animais, por serem os de mais fácil acesso e de elaboração mais simples.

          A descoberta dos metais marca uma fase importante do desenvolvimento humano e dá início ao aparecimento duma tecnologia que foi progredindo sempre, e da qual nos vamos ocupar neste tema.

 

          Por definição, metais são elementos cujos óxidos não combinam com agua, ou se combinam formam bases. Podemos afirmar também que, metal é tudo aquilo que pode ser forjado. Ou ainda que, metal é tudo quilo que quando polido possui um brilho próprio.

 

          Metal puro

          Teoricamente, um metal puro é aquele que é constituído por uma única espécie química. Uma amostra desse metal, é constituída por metal puro, quando contém 100% de átomos de um único elemento.

          Na realidade isto não existe, consideramos que uma amostra de metal é constituída por metal puro, quando contém uma percentagem tão próxima quanto possível dos 100%.

          Assim, uma amostra com 99,99% de cobre pode considerar-se tecnicamente pura, por apresentar o máximo de pureza que conseguimos obter neste metal. O mesmo poderá se dizer para uma amostra com 99,9% de níquel.

          A presença de outros elementos junto dos metais, ainda que em pequenas quantidades, pode alterar favoravelmente ou desfavoravelmente, algumas das suas propriedades.

          Assim, se ao cobre associarmos 0,1% de arsênio, a sua condutibilidade térmica diminuirá de 1/3, mas, se ao ferro associarmos 0,5% de carbono, a sua resistência a tração aumenta para o dobro.

          A obtenção de um metal tecnicamente puro esta geralmente dependente de processos de extração complexos e dispendiosos e, em muitos casos, verifica-se que as suas propriedades não são as melhores para a aplicação industrial imediata.

          Por isso, a produção dos metais puros só se justifica se conduzir a resultados práticos compensadores. O que raramente acontece.

 

          Estrutura dos metais

          Se polirmos cuidadosamente a amostra dum metal, a sua superfície parecer-nos-á brilhante, sem qualquer descontinuidade e perfeitamente homogênea. O mesmo se verifica se a observarmos com uma lupa.

          Este aspecto deve-se fundamentalmente ao brilho natural do metal e ao fato de o polimento ter criado uma finíssima camada de material deformado plasticamente, o que impede o aparecimento do seu verdadeiro aspecto estrutural.

          O conhecimento da estrutura interna dos metais e suas ligas permite-nos entender muitas das suas propriedades.

          De acordo com o grau de observação utilizado, distinguimos três tipos de estrutura nos metais:

                    - Estrutura macrográfica ou macroestrutura;

                    - Estrutura micrográfica ou microestrutura;

                    - Estrutura cristalina.

 

          Estrutura macrográfica

          Se, após o polimento de uma amostra metálica, utilizarmos um reagente (geralmente um ácido) que dissolve a película superficial e observarmos a amostra com um meio ótico (lupa ou microscópio) de aplicação não superior a 30 vezes, obteremos uma imagem bastante diferente da superfície.

          Agora, já se distingue uma pequena mancha granular, onde é possível ver:

                    - a orientação do grão;

                    - a existência de impurezas;

                    - alterações provocadas por tratamentos térmicos e mecânicos.

          Esta é a macroestrutura, assim designada por representar uma superfície muito grande da amostra relativamente ao tamanho dos pequenos elementos que a constituem.

 

          Estrutura micrográfica

          A estrutura micrográfica dá-nos uma visão conjunta da amostra, mas pouco nos diz sobre a forma e natureza de certos constituintes do metal.

          Assim, é usual realizarem-se observações de pequenas regiões da amostra, após um polimento mais fino a que se segue um ataque químico com um reagente apropriado (geralmente um ácido), com o objetivo de solubilizar a camada superficial e criar condições para uma camada mais pormenorizada. Como o reagente ataca as camadas mais periféricas dos grãos (junta de grão) do que os próprios grãos, assim como altera mais facilmente alguns tipos de constituintes do que outros, permite-nos identificar os elementos da estrutura.

          Após este tratamento a superfície é imediatamente protegida com uma resina transparente para que não se altere, sendo posteriormente observada num microscópio de forte ampliação (até 1500 vezes).

          A imagem obtida no microscópio representa a microestrutura do metal e permite-nos tirar importantes conclusões sobre:

                    - o tamanho, a forma e a distribuição dos grãos;

                    - o tipo de associações dos átomos, isto é, se formam corpos puros, misturas homogêneas (soluções solidas) ou misturas heterogêneas (agregados);

                    - a existência de detalhes macroscópicos;

                    - a penetração de tratamentos térmicos, mecânicos e químicos.

     

          Estrutura cristalina

          Se aumentássemos a ampliação dos aparelhos de tal forma que fosse possível observar o modo como os átomos se ligam entre si dentro dum grão obtínhamos a estrutura cristalina dos metais.

          Na realidade não temos microscópios que nos dêem tal ampliação, mas podemos recorrer aos aparelhos de raio x, que, embora não nos mostrem os átomos, permitem detectar quais as suas posições relativas.

         Utilizando esta técnica, concluiremos que nos grãos, os átomos metálicos se distribuem ordenadamente no espaço formando uma malha tridimensional.

          É de notar que nesta malha se pode considerar uma unidade tridimensional mínima que se repete: a célula elementar.

          A célula elementar é a base da malha cristalina.

          Há vários tipos de célula onde os tomos ocupam os vértices, o centro e o meio das faces. Nos metais os tipos de células mais comuns são:

                    - a cubica centrada

                    - a cubica de faces centradas

                    - a hexagonal compacta

                    - e a tetragonal centrada

          A distância entre dois átomos da mesma malha designa-se por parâmetro reticular. O seu valor depende do metal, do tipo de malha, e da posição dos átomos. Nos metais estes valores são da ordem de 3 angstrom.

          O conhecimento da estrutura cristalina dos metais, associado as caraterísticas dos seus átomos, permite-nos expor:

                    - a elevada densidade dos metais;

                    - a variação de algumas propriedades com a direção – anisotropia;

                    - a estabilidade da ligação metálica;

                    - as principais propriedades tais como a condutibilidade elétrica e térmica e a plasticidade.

 

          Densidade dos metais

          O número de coordenação de um metal representa a quantidade de átomos que envolve cada átomo desse metal.

          No caso da malha cubica centrada, cada átomo é envolvido por oito; numa malha cubica de faces centradas, cada átomo é envolvido por doze.

          A maioria dos metais cristaliza em malhas em que o número de coordenação é elevado, geralmente 8 a 12.

          Como a distância entre os átomos da malha é pequena, verifica-se uma elevada concentração de átomos num espaço limitado o que explica a elevada densidade da maioria dos metais.

 

          Ligação metálica

         A forma como os átomos metálicos se ligam entre si constituiu, durante muito tempo, um enigma, dada a dificuldade em explicar simultaneamente as caraterísticas particulares das suas propriedades e a grande estabilidade da ligação metálica.

          Hoje sabe-se que nos metais (puros) não existe moléculas, mas átomos simples, facilmente ionizáveis, que ocupam os espaços, posições bem definidas (ponto de reticulo cristalino) de acordo com o tipo de malha em que solidificam (cristalizam).

          Para explicar a ligação entre esses átomos, admite-se que os átomos perdem os eletrões das camadas exteriores (eletrões de valência) e se transformam em iões (positivos) e que os eletrões de valência se movimentam continuamente no interior da estrutura metálica.

          Como os eletrões livres são em grande número, ao movimentarem-se vão ser atraídos simultaneamente pelos iões que os envolvem e repelido pelos eletrões vizinhos. Isso origina um elevadíssimo número de interações opostas do tipo eletrostático que garante uma forte ligação entre os iões, a ligação metálica.

 

          Condutibilidade elétrica, térmica e plasticidade

          A forma como os átomos dos metais se distribuem no espaço e as caraterísticas da sua ligação permitem-nos conceber um modelo através do qual poderemos explicar algumas propriedades importantes dos metais, nomeadamente a condutibilidade elétrica, a condutibilidade térmica e a plasticidade.

          Neste modelo os iões positivos ocupam os pontos do retículo, e os eletrões de valência formam um nevoeiro eletrônico que se movimenta em torno dos iões.

 

          Condutibilidade elétrica

          A condutibilidade elétrica mede a capacidade de os materiais se deixarem atravessar pela corrente elétrica.

          Na generalidade, os metais são bons condutores elétricos, sendo este comportamento facilmente compreendido através do modelo.

          Assim, ao aplicarmos um campo elétrico positivo a um dos estremos de uma peça metálica, o nevoeiro eletrônico tende a deslocar-se imediatamente para ai, provocando a circulação de uma corrente elétrica.

          A passagem dos eletrões através da estrutura efetua-se facilmente, dada a sua elevada mobilidade e as interações opostas que os iões exercem sobre eles, podendo admitir-se que ao deslocarem-se, os eletrões como que deslizam no espaço interatômico.

          As limitações a este deslizamento derivam da possibilidades de choque com os iões. A probabilidade destes choques depende do tipo e dos parâmetros da malha cristalina, da existência de imperfeições no seu interior e da temperatura.

          A elevação da temperatura no metal, vai provocar um aumento da vibração dos iões (em volta dos pontos reticulares) com o consequente aumento do espaço ocupado, o que dificulta a passagem dos eletrões, diminuindo a condutibilidade elétrica.

          Assim se explica a elevada condutibilidade elétrica nos metais e a sua variação com as alterações estruturais e a temperatura. Podemos dizer que a condutibilidade elétrica é tanto maior quanto menor for a resistência a passagem do eletrões e que a resistividade elétrica é uma medida da probabilidade de choque dos eletrões.

        

          Condutibilidade térmica

          A condutibilidade térmica mede a capacidade que os corpos tem de conduzirem o calor

          Normalmente os metais são bons condutores térmicos, podendo também esta caraterística ser facilmente compreendida pela aplicação deste modelo.

          Assim, se aquecermos uma região dum metal, os átomos mais próximos vão aumentar a sua energia. Este acréscimo da energia vai provocar um aumento das vibrações dos iões em torno dos seus pontos reticulares.

          Os eletrões de valência em contínuo movimento, ao passarem junto desses iões vai receber parte dessa energia. Essa energia recebida vai aumentar a mobilidade dos eletrões e provocar uma série de interações em cadeia com os outros iões possibilitando uma rápida e equitativa distribuição de calor.

          Estes eletrões de valência vão atuar como veículo de distribuição recebendo energia dos iões mais excitados e entregando-a aos outros.

          A energia necessária para dois átomos atingirem o mesmo estado de vibração varia de átomo para átomo ou de ião para ião, o que explica as alterações da condutibilidade quando existem impurezas na malha. Os iões que necessitam de mais energia vão absorver um maior número de choques limitando a condutibilidade.

          Por outro lado, ao elevar-se a temperatura, aumentam as amplitudes de vibração dos iões, do que resulta um maior espaço ocupado, com consequente aumento do volume do metal.

          Assim se pode concluir que a elevada condutibilidade nos metais de deve as caraterísticas da sua ligação, nomeadamente aos seus eletrões de valência, e compreender a razão pela qual geralmente nos metais os valores de condutibilidade elétrica e térmica estão relacionados (maior condutibilidade elétrica corresponde a maior condutibilidade térmica) e variam de forma semelhante com as variações estruturais do metal.

 

          Plasticidade

          A plasticidade é uma das mais importantes propriedades dos metais e poderá ser explicada se recordarmos que no modelo a que nos temos vindo a referir, os iões ocupam posições no espaço que prefiguram um edifício cristalino constituído por pequenos módulos – as células elementares.

          Assim, se aplicarmos forças a este modelo, ele vai reagir procurando adaptar-se as solicitações em duas fases:

                    - numa primeira fase, enquanto as forças interatômicas o permitam, aumentam ligeiramente os parâmetros do metal.

                    - numa segunda fase, para forças mais intensas, verifica-se o resvalamento de alguns módulos para novas posições sem que se destrua o edifício cristalino.

          Teremos então, inicialmente uma deformação elástica e depois uma deformação plástica.

          A capacidade dos metais de se deformarem plasticamente pode explicar-se da seguinte forma:

          Os deslizamentos relativos dos módulos ocorre segundo direções bem definidas (plano de deslizamento), de tal modo que cada modulo ao afastar-se do vizinho se aproxima do seguinte, permitindo aos eletrões de valência a manutenção do campo de forças do tipo eletrostático, que é responsável pela estabilidade da estrutura.

          Os eletrões de valência vão atuar como uma cola elástica e permanente que assegura o deslocamento relativo dos módulos cristalinos e impede a sua fuga.

          O edifício só ruirá, quando as solicitações forem capazes de anular a ação da nuvem eletrônica e separar os módulos.

          Raciocinando a nível da macroestrutura sabemos que os metais são formados por um conjunto de pequenos grãos, e que cada grão é um edifício cristalino constituído por um elevado número de células elementares.

          Assim quanto maiores forem os grãos maior poderá ser a amplitude dos deslizamentos e consequentemente a deformação plástica.

          Analisemos o que se passa em duas amostras, uma constituída por grãos grosso e outra por grão fino.

          Como a malha cristalina em cada grão tem a sua orientação própria, as regiões que ligam os grãos do mesmo tipo (juntas de grão), são constituídas por átomos metálicos, cuja orientação não é a de nenhum grão em contato, mas corresponde a uma orientação intermedia.

          Recentes estudos provaram que estas juntas, em frio, possuem caraterísticas de resistência mecânica superiores a dos grãos.

          Se à amostra de grão grosso for aplicada uma forca de tração, o edifício reticular sofre deslocamentos, distando-se.

          Em muitos casos, e de forma evidente, podem verificar-se as deformações a nível de grão, cuja direção da deformação depende da orientação da forca aplicada e do grão. Se o grão for fino, realiza-se também um certo deslizamento em cada grão, de amplitude proporcional ao tamanho. As juntas de grão, em muito maior número, limitam esses deslizamentos, dado que os seus átomos, orientados de forma diferente, oferecem uma certa resistência ao reordenamento atômico,

         Assim, para um mesmo metal, uma estrutura de grão grosso apresenta elevada plasticidade; uma estrutura de grão fino deforma-se plasticamente menos, mas apresenta melhores caraterísticas de resistência mecânica.

          Na prática verificamos que a plasticidade dos metais, assim como outras propriedades mecânicas que nos referimos, não depende apenas da estrutura cristalina, mas de outros fatores em que o tamanho do grão é apenas um exemplo.

 Dada a diversidade desses fatores e a ação contraditória de muitos deles, não cabe no âmbito deste curso fazer uma análise mais exaustiva do problema.

          Diremos apenas que, duma forma geral, as propriedades dos materiais metálicos melhoram com o afinamento e homogeneização do grão.

         

          

 

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